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O desejo de conhecer de perto a cultura da uva,bet888casino - os vinhedos e a gastronomia local levou o cozinheiro Vitor Hugo Abreu, aos 25 anos, à cidade de Bento Gonçalves em 2021. Cheio de disposição e sonhando em aprender um pouco da cultura da serra gaúcha, ele chegou na cidade, alugou uma pequena cabana e logo conseguiu emprego numa padaria. Seu desejo, no entanto, era trabalhar na vindima, vontade que acariciava desde 2019.

O serviço na padaria durou pouco. Em busca do objetivo principal da viagem, Vitor foi bater na porta da vinícola Aurora, a unidade chamada de Matriz, localizada na rua Olavo Bilac, nº 500. Ao melhor estilo “na cara e na coragem”, ele se apresentou no setor de expedição e disse que queria uma oportunidade. Quem o recebeu, logo afirmou que sim, que havia muito trabalho a ser feito.

Tempos depois, o jovem cozinheiro entenderia que ali já estava sendo recebido pela equipe da empresa Oliveira & Santana, terceirizada que fornecia mão de obra para vinícolas e produtores rurais na época da colheita da uva e cujo dono, Pedro Augusto Oliveira Santana, foi preso nesta quinta-feira (23) acusado de comandar um esquema de trabalho análogo à escravidão, mas foi liberado após pagar fiança no valor de R$ 39.060.

Tal esquema, todavia, Vitor só viria a perceber mais adiante. Ali, naquele momento, ficou feliz com a receptividade. “Eu queria ter esse contato direto com a produção. Fui meio deslumbrado. Sou cozinheiro, acostumado a trabalhar 12, 14, 16 horas por dia. Entendo de direitos trabalhistas, mas não consigo aplicar eles muito bem sobre mim”, conta.

A gana de trabalhar fez com que ele não desse muita importância quando lhe avisaram que a jornada seria das 5h às 22h, de segunda a sexta-feira, além da promessa de remuneração – R$ 4 mil por cerca de 70 dias de serviço. O trabalho seria atuar na unidade da Aurora situada no Vale dos Vinhedos, na ERS-444, km 14,7, nº 1.575, descarregando caminhões abarrotados de uvas. Hoje, vendo em perspectiva, Vitor diz que o trabalho braçal até podia ser suportável, o problema mesmo era o clima de intimidação constante, regado a muito desrespeito.

Ao contrário dos trabalhadores trazidos da Bahia no esquema descoberto esta semana, Vitor é do interior de São Paulo, da cidade de Assis, um homem branco com estudo. As características “diferentes” lhe proporcionaram obter o emprego no cargo de “líder”, com a função de comandar um grupo inicial de cerca de 16 pessoas e que logo passou para 30. “Acho que eles ficaram até com um ‘pé atrás’ por eu ser o único branco, por ter alguns idiomas no meu currículo, curso técnico, uma graduação”, acredita o cozinheiro, analisando o motivo pelo qual ganhou o “cargo de confiança” que ainda receberia R$ 400 por hora extra.

Na prática, a função do líder era ser um “carrasco”, como define Vitor. “O que eles esperavam de mim, era que eu não trabalhasse, que ficasse parado vigiando e entregasse nomes”, afirma.

Nos primeiros dias de trabalho, o cozinheiro alçado à posição de dedo-duro começou a perceber trabalhadores cansados, estressados, alguns de ressaca por uma noite de bebedeira. Sem saber ao certo como agir, decidiu pedir orientação para outros líderes.

“Você entrega o nome pra essa pessoa que ela dá um jeito”, foi a resposta que ouviu. Essa pessoa, no caso, era um homem com arma na cintura, vestindo uma camiseta com o rosto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Isso é exatamente o que não vou fazer, pensou Vitor. Sem disposição para dedurar trabalhadores que pudessem estar fazendo corpo mole, ele optou por tentar conversar e entender o que estava acontecendo. “No começo fiquei perdidão, em choque com a situação de como eles estavam cansados, chateados. A galera pedindo para usar meu celular para falar com a família, sabe?”

A falta de disposição para a função lhe rendeu um tapa no rosto, desferido por um trabalhador que Vitor acreditou ter interesse em ser líder e o acusou de “puxar saco” de quem ele deveria vigiar. Perplexo, voltou a perguntar para outros líderes o que deveria fazer caso fosse agredido novamente. A resposta seguiu o mesmo tom da anterior: indicar o agressor para que ele fosse “levado pro canto”.

Conforme os dias iam passando, Vitor percebia mais situações degradantes. Soube que os trabalhadores baianos eram ameaçados de punição se faltassem a um único dia de trabalho: teriam que pagar R$ 1.600 pela despesa da viagem desde a Bahia. A ameaça fez com que um trabalhador com crise de asma se recusasse a ser levado ao hospital, mesmo passando mal.

Os trabalhadores também eram obrigados a comprar alimentos sempre no mesmo mercadinho, pagando preços abusivos e juros altos quando não tinham dinheiro, e ainda sofriam desconto do salário pela moradia – algo não dito no momento da contratação. No alojamento, não raro conflitos eram resolvidos com o uso indiscriminado de spray de pimenta lançado por vigias.

Medo e impotência

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